Como identificar sua classificação vocal? O guia completo e definitivo!
Cantar é arte. É se expressar de forma artística e dizer coisas por meio de sons e por meio da forma como se articulam esses sons. Contudo, existe um fator quase científico envolvido, que depende da biologia de cada pessoa e das características únicas que compõem cada ser humano. Afinal, o instrumento é interno e depende da maneira como o nosso corpo está estruturado.
Por isso, além de abrir a boca e simplesmente enunciar palavras com uma certa melodia, é preciso saber o que fazer e como fazer. Para isso, conceitos como classificação vocal são essenciais. Eles ajudam a preparar cantores e cantoras para oferecer a melhor performance e a melhor expressão, dentro de suas limitações físicas.
A classificação é que o indica o quão preparada uma pessoa está para cantar notas mais agudas ou mais graves. Por isso, é importante para que você se divirta de forma consciente e segura enquanto canta.
Quer saber mais e se diferenciar como músico, seja para trabalhar com música ou exercer como um hobby? Então acompanhe este guia que responderá suas dúvidas.
O que é classificação vocal?
A classificação vocal é uma forma de separar as pessoas pelas notas que elas conseguem alcançar fisicamente de acordo com o piano. Consideram-se as oitavas do instrumento para saber a partir de que nota uma pessoa consegue ir e até qual ela consegue chegar.
Essa classificação é útil para vários fatores, sendo que um deles é: para que o músico saiba como cantar de forma saudável e eficiente, sem prejudicar o seu corpo.
Ou seja, se é classificado com um determinado título, o cantor vai saber que pode ir até certo ponto sem forçar ou ter problemas. Assim, pode se organizar para cantar determinadas músicas ou determinados estilos de música, com uma consciência maior da capacidade de seu instrumento.
Em estilos musicais mais focados no vocal, como os que envolvem corais e canto operístico, é comum levar a sério essas classificações. Elas servem quase como um atestado da identidade de cada pessoa e definem o que cada uma pode fazer.
Pessoas cumprem papéis específicos dentro de um coral de acordo com a categoria determinada, por exemplo. Arranjadores costumam pensar em termos de naipes (grupos depois da classificação) também para construir os conjuntos de vozes. No teatro, por exemplo, papéis são designados de acordo com a classificação vocal para que uma pessoa capaz seja escolhida.
Em estilos populares, como o pop e o rock, esses termos têm menos importância, mas ainda são frequentemente discutidos entre pessoas especializadas. Para quem estuda música, a classificação da voz é muito útil para saber o que cantar, quais referências seguir e tentar imitar e até mesmo quais estilos são ideais para você.
Por exemplo: é comum que o rock envolva um canto mais energético e gritado, o que requer uma voz masculina mais flexível e aguda. Contudo, isso nunca é uma regra absoluta: há pessoas que desafiam as convenções. Tudo depende muito do subgênero que estamos abordando também: em versões extremas de metal (subgênero do rock), o canto nem é melódico e depende de técnicas de distorção de voz que desconsideram a classificação.
Falaremos um pouco mais dessa relação entre tipo de voz e o que a pessoa pode cantar no último tópico deste guia. Não deixe de ler até lá.
Diferença entre extensão e tessitura
Para continuar na nossa definição, precisamos distinguir dois termos importantes no mundo do canto: extensão vocal e tessitura. Extensão vocal é o conjunto de notas que podem ser fisicamente produzidas, independentemente da qualidade ou do esforço do músico. É, portanto, o indicador que ajuda a basear as diversas classificações vocais.
Por sua vez, a tessitura indica a quantidade de notas que um cantor consegue cantar de forma confortável, sem dor e sem muito esforço.
Uma nota acima da tessitura pode representar um esforço cansativo e falha na voz; uma nota acima da extensão é simplesmente impossível de produzir pelas limitações do próprio corpo do músico.
É interessante que a extensão seja o indicador usado para definir classificação, pois ela não tende a mudar tanto, visto que é um elemento natural. A tessitura depende muito do treino vocal, do desenvolvimento da musculatura necessária para emitir as notas com clareza, da respiração e das condições da pessoa no dia, envolvendo alimentação, sono e outras questões.
Pode ser complexo taxar uma pessoa com uma certa categoria, a depender da idade dela. Afinal, adolescentes, por exemplo, costumam mudar bastante de voz e variar entre as notas emitidas. Contudo, em um certo ponto de maturidade vocal, é possível chegar a essa determinação que será útil.
Vale acrescentar: uma extensão vocal grande não necessariamente quer dizer que a pessoa está apta a ser uma grande cantora; no caso da tessitura, isso já muda.
Uma pessoa normal, que nem seja da música, pode ter muitas notas no seu alcance caso resolva cantar, mas pode ser alguém sem interesse pela profissão ou pelo hobby. Isso porque, como já pontuamos, a extensão é algo natural, como uma característica da cor da pele, por exemplo.
Já uma pessoa que treinou e canta bem consegue expandir sua tessitura e geralmente usa a seu favor em suas interpretações. A tessitura está ligada com o cantar bem, pois depende muito dos hábitos do cantor e da forma como ele encara a atividade de cantar. Se ela gosta e tem vontade de estudar, certamente vai desenvolver uma boa tessitura e um bom alcance.
Os limites da classificação vocal
É importante destacar de antemão: uma classificação vocal não limita as pessoas, pois é comum que elas consigam ir além de categorias predefinidas. Inclusive, existem alguns termos para combinar diferentes categorias e ajudar nesses casos. O importante não é levar como uma regra absoluta, mas como um guia para ajudar os profissionais no uso de sua voz.
Uma pessoa pode passar até boa parte de sua vida cantando em registros errados, de acordo com uma classificação incorreta. Isso pode até ser fisicamente viável em alguns casos. Contudo, é certo que a pessoa não estará oferecendo suas melhores performances. Pois até mesmo a beleza da voz depende da classificação e de saber em quais regiões ela brilha mais.
Nesse sentido, cantar bem é, sobretudo, conhecer sua voz e saber como explorá-la para interpretar uma canção.
Como já falamos, a forma de abordar essas expressões e suas significações varia muito a depender do universo vocal em que você está inserido. Para quem deseja aprender e tem curiosidade, é bom estar sempre antenado nessas categorias para evoluir no aprendizado e em suas performances musicais também.
Como identificar sua classificação vocal?
Para identificar a classificação vocal, você precisa do apoio de um instrumento musical. Assim, poderá fazer um teste com sua voz cantando notas, com o instrumento como referência para saber a frequência ideal de cada nota.
Geralmente, o instrumento ideal para esse tipo de teste é o piano ou teclado. Ele é perfeito por mostrar as demarcações de oitavas e as notas de uma forma quase gráfica, de maneira que é fácil acompanhar e visualizar a sequência de notas do mais grave ao agudo. Instrumentos de corda, como o baixo ou o violão, podem ajudar, mas nem tanto, pois apresentam as notas fora de uma ordem sequencial.
A ordem das notas de um violão depende de sua afinação, o que torna difícil estabelecer uma sequência linear de acordo com as frequências. Instrumentos monofônicos como os de sopro também não são ideais por não apresentarem uma forma gráfica de visualização das notas e por não apresentarem uma extensão que cubra várias oitavas também.
O teclado é perfeito para o teste, por conta de suas oitavas. Uma oitava no piano é um conjunto de doze notas únicas, que não se repetem. A partir do momento em que um padrão é repetido, temos uma nova oitava, com um som mais agudo.
Todo teclado tem o que chamamos de Dó Central, ou Dó 3. É um Dó localizado na quarta oitava do instrumento (isso porque geralmente a notação mais usada começa com o Dó 0). A partir desse Dó, você pode ir para notas mais agudas ou graves.
O teste
O teste consiste em cantar notas por diversas oitavas até o momento em que você não conseguir mais emitir fisicamente. Você segue cantando nota por nota para saber até onde vai, quase como em um exercício de aquecimento. É recomendável utilizar uma sílaba fácil, como “lá”.
Então, você anota os seus limites no grave e no agudo e olha uma tabela de referência que indica em qual categoria você se encaixa melhor (falaremos sobre os limites de cada categoria no próximo tópico).
Para isso, você pode testar notas em cada frequência por vez. Primeiro, teste as notas graves, indo do Dó 3 ao Dó Dó 1. Pare no momento em que isso deixar de ser confortável e não tente forçar. Em seguida, parta do Dó central para o Dó 5 e pare quando não conseguir mais cantar as notas.
Evidentemente, como estamos falando de extensão, e não de tessitura, essas notas podem ser cantadas de diferentes maneiras. No caso dos cantores, por exemplo, é possível ir para a chamada “voz de cabeça”, que é um registro de voz mais agudo que parece muito com o que é chamado comumente de falsete. Nas notas mais graves, você pode atingir um certo registro chamado de “fry”, que é o mais baixo que as pessoas podem alcançar.
Também é necessário fazer alguns destaques. Para identificar seu tipo vocal, o conhecimento sobre sua voz pode ser crucial. Por exemplo, é sempre importante saber como aquecer a voz antes do teste, pois a falta de aquecimento gera desconforto e faz a pessoa não alcançar certas notas.
Também é fundamental considerar que o treino e o conhecimento sobre técnica vocal pode ajudar na descoberta dos seus limites corretos. Nesse caso, as notas já são as que a pessoa consegue fisicamente alcançar de nascença, mas elas só podem estar aptas a chegar lá (ao máximo que a voz oferece) com consciência e certo treino.
Ainda assim, o que estamos falando é diferente da definição de tessitura, pois a tessitura fala do conforto e da qualidade, da clareza e da emissão de boas notas que poderiam fazer parte de um contexto musical, por exemplo.
Cuidados
A voz é um instrumento natural, que ressoa do nosso corpo. Por isso, todo cuidado é pouco quando se trata dela. Quando estiver executando o teste para identificar seu tipo vocal, tome cuidado com algumas questões.
Uma delas é a postura e o cuidado para cantar notas com a maior naturalidade possível. O ideal é fazer esse teste com as notas no piano por ser mais natural, ao contrário de tentar cantando uma música, por exemplo. Uma música tem variações de dinâmica que tornam a execução da nota mais complexa, o que requer um treino.
O exercício que mencionamos, porém, é simples e deve ser feito com a maior simplicidade possível.
Esteja atento também à sua postura enquanto canta essas notas. É preciso estar em boa posição e com o corpo relaxado para garantir essa naturalidade que mencionamos. Se prepare mentalmente e fisicamente para obter o melhor resultado e de fato descobrir mais sobre as características de sua voz.
Quais são as classificações de vozes femininas e masculinas?
Agora vamos finalmente falar sobre as categorias vocais para mulheres e homens. Vamos dividir para abordar as principais, depois falaremos sobre classes intermediárias e variações interessantes para conhecer.
No canto masculino, temos três vozes principais: o baixo, o barítono e o tenor. No canto feminino, temos três também: contralto, mezzo-soprano e soprano. Veremos características de cada um a seguir.
Baixo
O baixo é a voz mais grave dos homens, geralmente com notas entre o Mi 1 e o Mi 3, segundo a notação brasileira (que considera o primeiro Dó como o Dó 0). Assim, é um registro com notas graves mais profundas e encorpadas, sendo que os homens desse tipo não conseguem tanta flexibilidade para notas agudas e intermediárias.
Naturalmente, é o tipo vocal mais raro no Brasil. Apesar disso, temos um grande exemplo de baixo aqui que é o Tim Maia. Você provavelmente já ouviu algo dele. A música que Maia fazia, uma espécie de soul music, é perfeita para vozes mais graves, com boa articulação de palavras e notas sólidas em regiões específicas.
Outros exemplos são: Arnaldo Antunes e Zé Ramalho. Antunes usa sua voz para declamar poesias em suas canções, ao passo que Ramalho usa para um som mais próximo do folk.
No resto do mundo, também é difícil achar um baixo. Dois exemplos de alguns dos mais conhecidos são: Johnny Cash e Barry White. Cash usava seu timbre para a música country, que é similar ao folk. Era um som tradicionalista e sem tantas variações de dinâmica. Já Barry White cantava algo próximo do R&B e da soul music.
Todos esses nomes citados se davam bem cantando baladas e canções mais calmas. Porque o registro baixo confere certa estabilidade e conforto para arranjos vocais.
Barítono
Em seguida, temos o barítono. Trata-se do registro vocal masculino mais comum que encontramos. Vai de um Lá 1 a um Lá 3, podendo chegar a notas mais graves e a algumas notas mais agudas, com certa flexibilidade. A voz de um barítono possui mais energia e dinâmica, portanto, sem ser tão grave como um baixo e nem tão aguda como um tenor.
Na voz de um baixo, uma nota grave possui um corpo muito forte; na voz de um barítono, essa nota geralmente soa bem equilibrada. Já os agudos de um barítono tendem a ser mais encorpados e fortes também, já que estão no limite da voz de uma pessoa com essa classificação vocal.
Por essas características, a região do barítono costuma ser bastante explorada por vocalistas solistas em todos os gêneros da música popular. No rock, os barítonos oferecem o mix de um grave confortante e sólido com agudos mais agressivos; no pop, esse mix acrescenta uma versatilidade muito interessante.
Dois exemplos de barítonos no rock são Chris Cornell, ex-vocalista da banda Soundgarden, e Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam. São vozes que alcançam bons graves e que entregam gritos agressivos com agudos encorpados para acrescentar energia a suas canções.
Tenor
Por fim, na classificação masculina, temos o tenor. Trata-se de uma voz mais aguda, a mais aguda entre os homens. Geralmente, de Dó 2 a Dó 4. Tenores podem alcançar notas agudas com facilidade, seja com falsete ou não.
É comum que tenores cantem algumas notas graves também, além da definição padrão. Contudo, seus graves são sempre menos encorpados e menos sólidos do que barítonos e baixos. O forte dessas pessoas é a região aguda da voz, o que favorece o uso para gritos e para momentos de clímax de músicas com um canto mais provocativo.
Você com certeza lembra daqueles marcantes agudos do rock. Uma parte deles foi feita por vocalistas como Bruce Dickinson, do Iron Maiden, um notório tenor. Sua voz possui maior flexibilidade e seus agudos soam cortantes, brilhantes e até estridentes em alguns casos, conferindo uma sensação de elevação ao arranjo.
No rock, tenores são bem-vindos, principalmente em músicas mais dinâmicas. Em subgêneros rápidos, como o Power Metal, esse tipo de voz sobressai também. Um tenor famoso que usava sua voz nesse contexto era o André Matos, que foi a voz da banda Angra.
No Brasil, temos muitos cantores sertanejos que se encaixam nessa definição. Afinal, o gênero requer bastante o uso de notas altas, cantadas com muita intensidade.
Contralto
Começamos as vozes femininas com o registro mais grave delas: o contralto. Está entre o Fá 2 e o Fá 4. São vozes mais aconchegantes e aveludadas, que conseguem alcançar graves incríveis. São um tipo raro.
No mundo pop, um exemplo foi a cantora Amy Winehouse. Amy costumava cantar canções mais lentas e menos energéticas, como soul e jazz. No Brasil, Ana Carolina é um exemplo de voz mais grave nessa categoria; e Ivete Sangalo é outro exemplo que usa a voz para gêneros dançantes, como o Axé.
Mezzo-soprano
O mezzo-soprano, ou só mezzo, é o tipo vocal intermediário entre as mulheres, com notas entre o Lá 2 e o Lá 4. Combina as características do contralto e do soprano, sendo mais flexível e versátil. Assim como um barítono, uma mezzo-soprano pode cantar em regiões mais graves, mas não se sai tão bem quanto uma contralto.
Um exemplo de voz nessa categoria é a Christina Aguilera. A cantora usa seu timbre para o canto pop, com diversas firulas e demonstrações de talento. Adele é outro exemplo, com um timbre que ela usa para arranjos desafiadores com muitas notas altas e fortes.
No Brasil, temos Elis Regina, uma das maiores intérpretes da nossa música, e Marisa Monte. Ambas cantam samba e MPB, com uma flexibilidade maior para a dinâmica das canções.
Soprano
A voz equivalente aos tenores nos homens é a de soprano. Possuem uma voz menos encorpada do que as mezzo, com notas entre Dó 3 e Dó 5. É muito comum entre as mulheres na música.
Cantoras nessa categoria apresentam uma voz mais brilhante, que pode soar estridente, com uma grande flexibilidade nas regiões de frequências mais agudas. Da mesma forma, seus graves tendem a ser um pouco mais apagados e mais fracos.
Um bom exemplo de soprano na música popular é a Mariah Carey. A cantora abusa de notas mais altas para demonstrar sua técnica extremamente afiada e uma voz perfeita para canções lentas e outras mais rápidas. Mariah definiu um estilo pop a ser seguido.
Outra cantora nessa categoria é Britney Spears, que também é reconhecida no universo pop. No Brasil, temos a cantora de MPB Gal Costa e a cantora de pop Sandy.
Categorias intermediárias
Nas categorias intermediárias, temos intersecções entre os tipos mencionados para lidar com algumas complexidades do canto masculino. Afinal, você pode perceber, caso faça o teste, que nem sempre sua voz se encaixa exatamente nas classes delimitadas. Assim, é preciso entender qual é a categoria em que a voz está melhor enquadrada ou começar a usar termos híbridos.
Temos o baritenor, que é um barítono que possui muitas notas de tenor. É um bom termo para descrever pessoas com graves de barítonos e alguns agudos de tenor. Há também o contratenor, que define um cantor que canta em regiões femininas com o apoio do falsete. É uma expressão que define quem está entre contraltos ou mezzo-sopranos.
É fundamental destacar que as categorias que mencionamos podem falhar em determinar exatamente o tipo de voz no teste. Isso porque as pessoas podem cantar mais do que o que foi definido como limite ou menos do limite. Nesse caso, é importante recorrer à ideia de tessitura para saber qual é a região de mais brilho ou mais conforto da voz.
A classificação vocal é uma importante parte da técnica vocal e da teoria sobre o assunto. É o ponto de partida para que uma pessoa conheça suas próprias limitações e saiba como explorar o melhor de voz, cantando canções que se encaixam perfeitamente em sua categoria. Também é uma boa maneira de evitar problemas na região da garganta e da boca.
Como vimos, é importante contar com um piano ou um teclado para fazer, não somente uma boa classificação, como também exercícios para desenvolver a voz e prepará-la para cantar. Para isso, a Roland pode ajudar com o equipamento ideal que você precisa.
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